17 de setembro de 2011

Zanga de confrades, ou de como o bolinhol pode azedar



Depois de ter atingido o ponto de caramelo a discussão do bolinhol, como já é conhecida, parece encontrar-se neste momento a cozer em lume brando. Recorde-se que em finais do mês passado esta questão foi um dos temas mais comentados cá na terra quando se tornou conhecida a decisão judicial acerca das pretensões de duas casas confeccionadoras e comerciantes do referido bolo. E se o juiz não deu razão a nenhum dos reclamantes também a discussão pública não serviu para aclarar o problema.

O L&T, no sentido de pôr um ponto final no assunto, solicitou um estudo a dois egrégios vizelenses, que já deram avolumadas provas de rigor no estudo de outros assuntos da nossa história: o senhor Manuel Campelos e a doutora Maria José Pacheco. Mas, ou porque se tivessem extraviado as missivas ou por falta de tempo, ou por manifesto desinteresse dos requestados, ainda não vi em nenhum dos semanários onde costumam escrever, qualquer referência ao tema.


Assim sendo, não tive outro remédio senão socorrer-me da memória dos mais velhos que na praça desfiam recordações. Mas também deles não obtive prova que legitimasse qualquer das facções. A única conclusão que retirei foi que uma das casas sempre foi conhecida por ser uma espécie de almofada ou desvio de emergência dos autocarros a que falhavam os travões na descida da avenida, e a outra a sede das reuniões conspirativas do MRCV. E, já agora: “é uma pena que o preço do produto seja demasiado caro para o rendimento de um reformado”. Nenhum deles argumento histórico ou gastronómico pertinente para a questão em análise.
Apesar de tudo não quis dar o assunto por encerrado. Admiti que faltava uma opinião avalizada de algum vulto proeminente, o que nestas notícias cai sempre bem. E lembrei-me de recorrer ao presidente da autarquia, que, até pelo facto de pertencer à confraria gastronómica do pão-de-ló tradicional, poderia ter uma palavra dizer ou até alguma citação de Mao Tse-Tung apropriada para o efeito. Mas o edil, ainda exaurido não só do estudo dos dossiers a que se dedicou no período de férias como da longa entrevista a que se submeteu recentemente, declinou o convite e remeteu-me para o vereador VH Salgado, apontando-o como um “perfeito conhecedor dos meandros do problema”. Este, no entanto, despachou-me num ápice, afirmando estar enjoado, não só da polémica como do próprio doce. E tendo acrescentado que aprecia mais outras iguarias, demonstrou-me, através do registo de chamadas, como foi um fervoroso apoiante do pastel de Tentúgal, no recente concurso da RTP. E o registo não mente: 14 sms no espaço de 5 minutos.

Ah, como eu o compreendo! As saudades que deve ter de Coimbra e da rebaldaria dos tempos académicos. Na verdade deve ser custoso passar de presidente da maior associação académica do país, e reconhecido líder da contestação ao governo da altura, para um simples yes man ao serviço de uma autarquia de 3.ª ordem. 

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