14 de novembro de 2011

Made in Vizela



A ironia não é a verdade mas o caminho.

Pensei começar o texto com esta citação de Kirkegaard e, em seguida, desenvolver o relambório até completar um tratado acerca do humor. Humor, ironia, cómico… termos que usamos e de que abusamos no dia-a-dia sem nos preocuparmos com os verdadeiros conceitos que os estudiosos lhes atribuem. E, na verdade, que interesse tem para o homem comum preocupado com ao aumento do IVA e com o corte dos subsídios, viajar até à isabelina Inglaterra para descobrir que o humor começou por designar a alegria intima que produz no espírito o observar o mundo e a humanidade de um ponto de vista estritamente pessoal e pretensamente objectivo? E ir caminhando no tempo até descobrir, afinal, que o Humor consiste em pôr em evidência o nonsense e o absurdo dos factos considerados normais pela força do costume?

Que nos importa que “apesar de o humor ser largamente estudado, teorizado e discutido por filósofos e outros, permanece extraordinariamente difícil de definir, quer na sua vertente psicológica quer na sua expressão, como forma de arte e de pensamento” se o que nos interessa é dedicarmo-nos a descobrir uma solução que nos permita pagar à banca as prestações de Dezembro e uma maneira de desencantar a massa para viajarmos até Punta Cana no próximo Verão?

Porque é que havemos de voltar à Antiguidade Clássica para tentar perceber as origens e a definição primeira da Ironia pela voz de Sócrates, quando nem podemos ouvir falar do seu homónimo luso que nos colocou a cabeça no cepo, e muito menos na Grécia que ameaça arrastar-nos para o abismo pós-euro?

Então pensei melhor: como este espaço é mais vocacionado para a sátira do que para a pedagogia, apaguei as frases bonitas e bem estruturadas e que me haviam custado pra cima de 3 horas em consultas e reflexão e mudei de rumo. Pois a nós, gente comum, o que realmente importa é o resultado desses artifícios, isto é, tudo aquilo que nos diverte e é passível de nos provocar umas boas gargalhadas para desopilar e esquecer a crise. Assim sendo, porque uma imagem vale mais que mil palavras, decidi, por uma vez, abdicar dos meus princípios e pôr no ar um exemplo do humor refinado e subtil. Ainda por cima feito cá na terra. Pois ao que parece, é disto que o meu povo gosta e que, se calhar, espera de mim.

E mais! Quem sabe, desta maneira, eu possa aspirar, enfim, a um lugar de destaque no ranking das audiências? Animada na presunção de que os milhares de espectadores que encheram o recinto pretendam recordar a noite memorável que viveram, estou com fé de que o contador de visitas do L&T, nos próximos dias, atinja um pico record. E, embora não faça muita questão, tenho a secreta esperança de um dia poder afirmar que o meu blogue teve mais visitas do que o blogue do vizinho – como, de resto, está na moda.
P.S. - Este post tem como especial destinatário um leitor (e comentador anónimo) de um outro blogue, que se queixou de não perceber a minha “ironia rebuscada”. Espero que goste e se divirta com o vídeo da pequena amostra do humor feito em Vizela, que lhe dedico especialmente. Embora tenha a certeza de que ele se encontrava entre a multidão anónima que delirou com o show e, até aposto, foi um dos que mais palminhas bateu. 

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