21 de dezembro de 2011

O pio do canário


Quando tudo indicava que a única preocupação, até final do ano, se resumiria a escolher entre o voto de louvor ou o saco de alpista para distinguir o mais recente campeão nacional vizelense ( o canário Classe E-262 – Gloster Corona Amarelo Nevado (com malha verde inferior a 25%), pertença do sr. Luís Silva, presidente do Clube Ornitológico de Vizela (COVIZ), eis que um novo e bicudo desafio se depara à nossa douta e municipal administração.


Um grupo de cidadãos mancomunados, impulsionados (presumo) por um comentário no site da RV (em 15/12/2011 19:23:59 | IP do Utilizador: 188.83.184.243, OS VIZELENSES GOSTARIAM QUE A RÁDIO VIZELA TRANSMITISSE AS ASSEMBLEIAS MUNICÍPAIS EM DIRECTO. DEIXO AQUI ESTA PROPOSTA???) decidiu organizar uma petição pública apelando “às instituições autárquicas de Vizela a aprovação da transmissão em directo pela Rádio Vizela das sessões ordinárias e extraordinárias da Assembleia Municipal.” Que se encontra no site http://www.peticaopublica.com/. Ao lado de outras tão louváveis e salutares como: “Contra o fecho da carreira 18E dos eléctricos”,”Pela Salvaguarda das Ondas do Paul do Mar contra a "Ligação Marginal entre o Cemitério e o Cais do Paul do Mar", “Viabilizar a “praça da Alameda” para o uso do skate”, “Contra a alimentação dos pombos na via pública”, “Queremos que o concerto dos LMFAO em vez de ser no Coliseu dos Recreios seja num local com mais lotação de pessoas”... Em democracia, o povo é quem mais ordena. Em teoria, claro, e nas letras das canções

Eu, Clarinha, não assinei. E passo a justificar: não é que aprove as cortinas de silêncio, temo é que a referida transmissão se torne um espectáculo ainda mais monótono que os relatos dos jogos do Vizela. Aliás, há uns tempos, pensei mesmo organizar uma petição ou uma queixa dirigida à DGE contra o excesso de decoro nas reuniões da assembleia Municipal, o que tem retirado brilho e entusiasmo às sessões. Habituada, desde a implantação do concelho, à linguagem terra a terra e aos apartes brejeiros do doutor Chico, é com verdadeira mágoa que venho assistindo ao declínio de um espectáculo outrora tão animado. As sessões tornaram-se cinzentas e desconsoladas e o que se assiste nos plenários da AM é verdadeiramente confrangedor: muito se-faz-favor, muito senhor-doutor, muito salamaleque, muita vaselina… Ora como eu deve haver mais gente que já sente saudades do estilo caceteiro e das caralhadas do anterior presidente.

Entretanto, sabe-se que, até ao momento, cerca de 100 pessoas assinaram a petição, incluindo vários membros dos partidos da oposição. Da maioria rosa é que não se vê nem sinal. Neste caso, o chefe é quem mais ordena. E como o dito cujo ainda não tomou qualquer posição, pública ou oficial, sobre o tema, ninguém avança e todos fazem por ignorar o assunto. Todos? Talvez nem todos. Consta para aí, que mesmo entre as hostes socialistas há um acérrimo defensor da iniciativa: nem mais nem menos que o próprio líder da bancada parlamentar. Não é que se mostre sensível aos argumentos dos subscritores nem porque acredite nestas “exigências populistas e demagógicas”. Nutre, porém, um doutoral anseio de ouvir a sua voz maviosa de barítono eclodir em cascatas de retórica nos transístores, por esse país adentro. 

Entrementes “a petição será entregue ao Dr. João Cocharra, Presidente da Assembleia na manhã de 27 de Dezembro”, para tentar que o assunto seja discutido na reunião do dia seguinte, e “com resultados positivos”. Mas então, pergunto eu, se têm tanta urgência porque não a entregam logo e directamente a quem vai decidir?

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