26 de junho de 2011

Afinal, já temos provedor do munícipe em Vizela

Eu não gosto de me gabar mas, manda a verdade que o diga, eu sou uma esposa fiel.
Nem sequer no Facebook gosto de alimentar conversas que começam por abordagens gentis de pessoas curiosas e depressa se transformam em ritual de engate. Todos temos os nossos limites. E mesmo com o marido ausente, não alinho como outras senhoras, que cortadas as amarras do matrimónio, temporária e unilateralmente se transformam em autênticas gatas sem borralho em loucuras de fins-de-semana. Numa febre de conquista e de suprimento de carências que eu nem vos conto.

Prefiro dedicar-me a, por exemplo, navegar na internet. Há quem lhe chame investigação. Eu não me atrevo a tanto. Chamo-lhe entretenimento. Mas às vezes vale a pena. Descobrem-se coisas bem interessantes. Como esta.

Em Dezembro de 2009, foi apresentada em reunião de câmara a criação do cargo de provedor do munícipe de Vizela. Esta proposta da coligação foi cimentada num texto justificativo e num extenso regulamento de 26 artigos. O qual, talvez pela sua complexidade e crassidão nem deve ter sido lido devidamente. O que é facto, é que a proposta foi rejeitada pela maioria rosa. 


Posteriormente, em 21 de Maio de 2010, foi apresentada no município da Covilhã, uma proposta* em tudo semelhante, embora mais pomposamente intitulada “Proposta sobre cidadania e participação cívica: Provedor do Munícipe”, subscrita pelos excelentíssimos Vereadores do Partido Socialista local, João Correia, Vitor Pereira e Graça Sardinha. E cujo parágrafo 5.º reza assim: “Hoje existem Provedores dos Munícipes, em Vizela, Alcobaça, Trancoso, Maia, RioMaior, Odivelas, Cartaxo, Oeiras, para citar apenas algumas das autarquias dos mais variados sectores políticos que optaram pela criação desta figura. “
Mistério! Teria sido criado o cargo na nossa terra sem ter sido dado conhecimento às tropas?
E quem seria o feliz contemplado? Sim, porque a existir, a figura terá que ter a forçosamente a faculdade de possuir um corpo, um rosto, uma identidade.

Ao ler a última edição do RV impressa em papel, como faço quando quero conferir os assuntos que são evitados na edição online, acabei por resolver a charada e descobrir o feliz contemplado. 
A páginas 10 do dito semanário, camuflada entre anedotas e parábolas, lá estava tintim por tintim a narração épica de um feito que (só pode!) testemunha o trabalho silencioso e anónimo que o provedor tem exercido nestes meses, sem que lhe tenha sido dado o merecido reconhecimento. Público, pelo menos.

Estou a referir-me ao caso “do rail retorcido por um automóvel há alguns meses na Circular de Vizela e que colocava em perigo os peões”. Ora, bastou um simples telefonema ao presidente, que ainda respondeu “Desconhecia o problema. Amanhã mando resolver a situação”, para no dia seguinte, de facto, “o presidente ter o problema resolvido”. 
Ora, sabendo que está determinado que o atendimento aos munícipes por parte do excelentíssimo senhor Dinis Costa – Presidente da Câmara Municipal apenas acontece à “3.ª feira e 5.ª feira, com marcação prévia”, pergunto eu, quem a não ser o provedor teria esta competência? Esta facilidade de aproximação ao “poder decisório”? Não há que ter dúvidas, estava descoberto o Ilustre Provedor do Munícipe de Vizela. 

E por uma vez todos têm motivos para se regozijarem:

- A oposição que vê aproveitada, embora por vias travessas e de forma abstrusa, a sua ideia. Mas descansem, que não será por isso que o “reforço da democracia participativa” e “a salvaguarda dos interesses das populações” deixarão de estar devidamente acautelados.
- O Presidente da Câmara que vai poder descansar mais um pouquinho. E nem se verá obrigado a trocar tão amiúde o número do telemóvel para fugir aos empecilhos do costume.
- E o amigo e autor da página 10 do RV Jornal, que vê finalmente concretizado o seu sonho de exercer uma função no nosso município. 

E que melhor veículo para o exercício “de uma função que se quer ética, cívica e solidária, por que dele se exigem evidentes capacidades de persuasão e prestígio social e pessoal que assegurem ao munícipe o necessário crédito de confiança e de respeitabilidade”, além da “função pedagógica e de mediação entre os munícipes e a Autarquia” e de “esclarecimento do cidadão queixoso, sempre que o objecto da reclamação não tenha qualquer razoabilidade”, do que o jornal digital de Vizela, conhecido por DDV, que chega num segundo aos quatro cantos do mundo? 

E agora digam lá, se isto não é jornalismo de investigação do mais fino quilate?
Estou, é curiosa para saber como reagirá o Dr. Chico, que vê mais um aliado passar-se para o campo de onde sopram os melhores ventos.

* Caso duvidem da autenticidade da proposta apresentada pela vereação socialista da Covilhã, consultem: "http://pt.scribd.com/doc/31768780/Proposta-20de-20Provedor-20do-20Municipe1-20-1-1"

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