7 de agosto de 2011

O maior acontecimento cultural do concelho


Pondo-me em dia com as notícias, no regresso de férias, saltou-me aos olhos o título sensacionalista do RV, chamando a atenção para o maior evento cultural do concelho. Eu reconheço que ainda conferi nas páginas centrais se não se tratava de alguma iniciativa para assinalar devidamente o aniversário do 5 de Agosto. Mas por exclusão de partes, verifiquei que se referiam mesmo às festas da cidade.


De imediato, confrontei, por correio electrónico, a equipa do Câmara Clara, o magazine cultural por excelência em exibição nos canais portugueses, com a falta de divulgação de um acontecimento desta natureza. E acrescentei que só podia tratar-se de discriminação por se realizar no norte do país.

A resposta não tardou e amavelmente deram-me a saber que certamente me tinha enganado no endereço, mas que fariam seguir a informação para a produção do programa do João Baião e da Tânia Ribas. 
Eu nada satisfeita com a resposta “eles pensam que nós somos parolos ou quê?!”, insisti, enviando, por fax, cópia da edição do RV de 5 de Agosto que por sorte tinha recebido no dia anterior, na caixa do correio. 

Querem saber qual foi o comentário? “Depois de analisado o caso e esmiuçado devidamente o programa das festas do suposto evento cultural, só nos merece acrescentar que há gente que, culturalmente, ainda confunde o olho do cu com a feira de Montemor”. Fiquei abismada. E aparvalhada! Nunca tal tinha ouvido, ou lido, ou coisa que o valha. E não é que, para meu espanto, a expressão vem mesmo descrita no Dicionário de Calão e Idiomáticas, pág. 18, a seguir e equiparada a outras como “confundir cagalhões com nêsperas”, “confundir alhos com bugalhos” ou “confundir o género humano com o Manuel Germano”. 


Confesso que não gostei do estilo nem de ver assim maltratados os nossos pobres e esforçados jornalistas. Até porque sei que se trata de gente séria e que só faz isto para o bem da terra mas também admito que por vezes exageram - lembro-me de ter ido à procura da ilha dos amores, convencida de que era uma espécie de ilha da Madeira, antes do Jardim.
Mas, voltando ao assunto,acabei por meter a viola ao saco e com medo da próxima réplica nem me atrevi a insistir. 

Fui, antes, até à praça onde me empanturrei de farturas. De seguida dei um salto ao bairro dos marroquinos onde comprei uma carteira Tous, uns óculos de sol Versace, dois pares de chinelos e a colecção completa dos Gato Fedorento. E num ímpeto arrebatado, adquiri também uma mala pois, de repente, senti o desejo de passar a próxima semana num ambiente mais descontraído… longe do tenso clima cultural que se vive em Vizela. 


3 comentários:

  1. O seu elitismo tresanda a preconceito anti/popular: tudo é cultura minha cara!!

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura

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  2. A chief of the Digger Indians, as the Californians call them, talked to me a great deal about the ways of his people in the old days (...) "In the beginning," he said, "God gave to every people a cup, a cup of clay, and from this cup they drank their life. They all dipped in the water," he continued, "but their cups were different. Our cup is broken now. It has passed away.
    Ruth Benedict, Patterns of Culture

    (Agora é que me vai chamar elitista!)

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  3. Clarinha, sabendo eu que este é um "Espaço de puro divertimento em que se mistura a realidade com a ficção" nunca a trataria tão mal. Discordo em absoluto do que escrevi: nem tudo é cultura:)

    Excelente citação.

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