14 de abril de 2011

Descobrir Vizela

Hoje publico um excerto de um conto candidato ao concurso literário “Descobrir Vizela. Foi escrito por um jovem de 13 anos. Curiosamente a idade do nosso jovem município. E acreditem no que vos digo: o rapaz vai longe. Tem jeito, o pequeno! Pode não arrecadar os 500 euros do prémio mas, ou muito me engano, ou vai arranjar um bom emprego quando atingir a idade adulta. E com 20 valores na prova de selecção.

"Vizela é uma terra muito bonita. E muito boa para nela se viver. Dantes não era assim. No tempo em que Guimarães mandava, as pessoas em Vizela eram muito infelizes.
Dizem os meus pais que nos chamavam a risca ao meio. Só havia uma rua e era muita confusão. As pessoas e os carros tinham que andar muito devagarinho. Agora não. Construíram-se muitas ruas e rotundas que no Natal quando estão iluminadas fazem um vistão, e até se teve que pôr lombas nas estradas para os carros circularem devagar. E há muitos carros. Tantos que até se puseram parquímetros em todas as ruas para não os deixar estacionar.
Também só havia um Banco. Agora há muitos bancos e muitas caixas multibanco. Por isso é que há menos dinheiro – as pessoas estão sempre a levantar notas. (…)
Agora temos tudo o que é preciso. Temos uma Câmara, discotecas, bares, temos o Minipreço, o Pingo Doce e o Intermarché, e muitas casas, tantas que algumas ainda estão vazias. 
Para fazer compras não precisamos de nos deslocar. Só no princípio do mês é que vamos de carro passear a Guimarães. E os meus pais compram-me um happy meal no Macdonalds. É pena não haver Macdonalds em Vizela. Mas o meu pai garante que já não deve faltar muito. 
Nos outros domingos vamos passear para o Forúm que é um espaço que nem Guimarães tem. Com lindos jardins, com bancos e esplanadas e muitas lojas. Algumas estão sempre a mudar de ramo. No Inverno é que é um bocado frio.(…)
Quando a minha tia foi operada fomos algumas vezes vê-la a RibaD’Ave. E o meu pai chateava-se sempre e dizia que era uma vergonha o nosso hospital estar fechado. E ainda ficou mais chateado quando a fomos levar a casa, em Tagilde. O meu pai até disse que a estrada parecia um caminho de cabras e ia-lhe dar cabo da suspensão do Honda. Isso deve ser culpa dos que mandavam antes em Vizela. (…)
Há muitas coisas novas em Vizela. E tudo o que é velho está-se a deitar abaixo. Deitaram-se abaixo as fábricas que já não trabalhavam e algumas casas à beira do rio. As pessoas que trabalhavam nas fábricas agora passam o tempo na praça. A apanhar sol, a contar histórias e a fazer o lugar dos pombos. Estes mudaram-se para o hotel Sul-Americano que fechou. Foi uma maldade de uns senhores do Porto, que fecharam também o balneário termal. Até parece que ninguém gosta de nós! O que vale é que agora temos uma Câmara que defende os nossos interesses. E o Sr. Presidente até já foi umas quantas vezes a Lisboa para se reunir com os amigos do Governo. Só que ainda não conseguiu as chaves. Também a Oposição, que são uns malandros, deitaram abaixo o Governo e agora ninguém pode abrir as termas. O balneário também já é um bocado antigo e só para lá iam velhotes com reumatismo. O meu pai diz que mais vale aterrar aquilo e fazer um shopping-  “que o que é preciso é arranjar empregos.”
E já podemos entrar no parque de graça. Dantes tinha que se pagar bilhete à entrada só para ver árvores. Agora tem o chalé e uma esplanada onde se podem comprar gelados e beber Coca-Cola. Também se pode andar de barco no rio. Mas isso é perigoso - diz a minha mãe - deviam era pôr mais baloiços e saltaricos para os miúdos.
Dizem até que no próximo Verão já vamos ter uma praia. E vamos poder desfrutar do rio que já não é tão vermelho. Eu já ando na natação mas é em Guimarães, no Multiusos. Em Vizela também temos um Multiusos, que dantes não tínhamos, mas é só para as festas. (…)
Agora há muitas escolas. Dantes tínhamos que ir estudar para Guimarães. A minha escola é nova. O meu pai leva-me todos os dias de carro. Fica-lhe em caminho. Até porque ele diz que os acessos são esquisitos; “mas temos que dar tempo ao tempo. Roma não se fez num dia”. 
Eu não gosto muito de Roma, pelas fotografias que vi. Tem monumentos muito antigos. E não acho que fiquem bem numa cidade moderna. Tenho a certeza que se fosse em Vizela já tinham sido deitados baixo."

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